segunda-feira, 7 de setembro de 2009

o espaço

Numa manhã dessas, peguei o ônibus e escolhi um lugar à janela. Pedi licença ao senhor que sentava na cadeira ao lado.
Ele, prontamente, tratou de dar passagem.
Já sentado, disse:
- Desculpa, viu? É que eu tava distraído.

Achei tão bonita a postura do senhor... E, ao mesmo tempo, estranha, porque até agora não vejo o porquê dele ter pedido desculpa.
Pensando sobre, digo que acho digno quem ainda conserva noções de espaço, sabe até onde vão seus limites e domínios num espaço público; e, assim, enxerga o outro.

O dia-a-dia mostra que há mais gente "atropelando" a outra...
Lembra de quantas vezes você teve seu espaço público invadido pelo escancaramento da privacidade dos outros?
Há quem saia por aí - e chega a lhe atrapalhar - falando alto de assuntos da família, das relações amorosas ou das aventuras da vida.
Mais parece um ser-crise ambulante, disparando jatos de si mesmos em quem nunca viu!

a sobrevivência

Sabe a música: "Vivendo e aprendendo a jogar, vivendo e aprendendo a jogar..."?

(a jogar, não a viver exatamente... Entende?)

domingo, 26 de julho de 2009

a incoerência

Estava eu, ao calor das 13h, no “Córrego da Areia” – um dos ônibus que costumava pegar para ir de um estágio para outro, nos tempos de dois estágios.
Na parada seguinte à minha e numa cadeira à frente, sentou-se uma mulher de boa aparência.
Mais adiante, a mulher joga a embalagem de alguma coisa pela janela do ônibus. Para isso, teve que estender o braço até a janela de trás, bem à minha cara.
Que mal... O ato de jogar lixo na rua é extremamente grosso.
Passei a achar a mulher indigna.

Sempre achei incoerente alguém ter boa aparência mas ser mal educada.
Encontrei um monte, por aí, nessa minha vida de vinte e poucos anos.
Acho que devia haver uma ordem natural, na vida, onde as pessoas, primeiro, passariam por um processo de formação para a boa educação; se aprovadas, partiriam para outro processo - o estético.
Só a combinação (ou completude) de “bom corpo” com “cabeça boa” pode vingar um modelo de gente interessante, do tipo que a gente tem vontade de se envolver.

Lembrei de um antigo colega do 3º ano... Músculos bem definidos, cérebro atrofiado. Aposto que você também tem um exemplo.

sábado, 25 de julho de 2009

a bebida

Preferia escrever qualquer coisa sobre água, mas a coca-cola chama mais atenção.

Como falar dela é desafiante, pelo não-sei-o-quê que há por trás de seu consumo, relato uma situação recente que presenciei:

Segunda-feira, 7h40 da manhã, na parada de ônibus, um garoto tomava coca-cola.

Com um gole, disse:
- Bom dia, estômago!

- Cínico! - retrucou o órgão.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

o questionamento

Uma felicidade mole e tomada para si ou uma felicidade dura, mas buscada tal qual si?

Qual escolher?

domingo, 26 de abril de 2009

a indignação

Terça (14/04), teve jogo entre Palmeiras (leia-se: verdão) e Sport, em São Paulo.
Mais uma vez, a torcida do Sport estava ensandecida.

Sei somente que, como todos os outros dias, acordei tão cedo que nem tomei café.
Tomei banho e vesti a roupa que tava mais fácil, entre as poucas limpas.
Peguei minha carona e, depois, meu ônibus de cada dia.
Fui para o primeiro estágio, comi rapidamente na padaria, fui para o segundo estágio e segui para a faculdade, numa correria só.

Já tarde, depois da faculdade e de volta para casa, na parada de ônibus, um senhor, com idade beirando os 50 anos, soltou a frase mais incômoda daquela semana, com um ar de graça meio amarelo:
- Se a torcida do Sport te pegar, vai ser 1 x 0.

De imediato, nem entendi o que ele queria me dizer.
O motivo? A camisa (a que peguei de manhã, às pressas) era verde.
Olhei para o homem com um olhar de poucos amigos, sem aquele típico sorrisinho no canto da boca, que ele esperava receber seguido de algum comentário.
Desprezei-o com uma hostilidade que me é rara.

Também, como pode? Mania de achar que todo mundo vive em função do futebol!
Vou ter que pensar na cor da camisa antes de sair? Faça-me o favor!
Liberdade, liberdade, abra as asas, please!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

a solidão

Sempre me dei muito bem com a solidão.
Acho que todo mundo devia se lançar à experiência de ficar um pouco mais só, sendo independente do outro e dependente de si, mesmo que num período curto ou em determinadas atividades.
Mas, ultimamente, tenho oscilado. A solidão tem me causado tristeza, como no relato que segue.


Domingo de Páscoa
Rodoviária de Caruaru (lugar de idas, vindas, esperas, partidas, despedidas)
Final da tarde para início da noite, das 17h às 19h

Um frio de Agreste e a FALTA de quem pudesse afugentá-lo

Aquela ameaça de chuva, percebida pela forte neblina, que junto ao cair da tarde, apagou toda a cidade, até que as luzes se acenderam uma a uma, iluminando JUNTAS

Eu, SOZINHO, amargava duas horas de espera, de volta ao Recife e às suas DISTÂNCIAS

A rádio tocava aquelas músicas românticas bem anos 90... Aquelas típicas de final de tarde

Em mim, ali, uma vontade de ser poeta e, por meio do jogo de palavras e rimas, despejar a solidão sentida

Na minha cabeça, (quem sabe?) um amor!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

o futebol

Sou do tipo raro que acredita que se "nosso futebol" não fosse como é, o Brasil seria melhor. Sem exagero!

As pessoas vêm com o argumento de que ele salva vidas, gera oportunidades e inclui gente na sociedade. Não há dúvida disso!

Mas, numa escala bem maior, é o grande provedor do enriquecimento fácil, seja por falcatruas ou pelos salários dos "craques", incompatíveis com a realidade da maioria gigantesca de seus torcedores.

O futebol é anestésico e, por vezes, funciona como uma versão do "pão e circo" para brasileiros.

E mais: passa-se o ano todo realizando campeonatos (imagine o dinheiro que é gasto nisso!) e a violência comprou ingresso vitalício nas tantas rodadas.

Domingo desses, passei pelo Cais de Santa Rita (bairro de São José, Recife), no final da tarde. Havia tido jogo do Santa Cruz e a torcida organizada, a "Inferno Coral", fazia seu "inferninho" naquele lugar, assustando quem não tinha nada a ver com a derrota do time deles.
Ouviu-se um disparo e um bom número de policiais militares fizeram o contra-ataque.
Famílias que saíram de casa para passear, mães que esperavam ônibus com seus filhos pequenos, trabalhadores que voltavam para suas casas, jovens que saíram para desopilar e aproveitar o final de semana... Todos expostos à violência. Por nada!

domingo, 19 de abril de 2009

o estereótipo

Adoro andar de ônibus, acredite!
(ressalva: sentado e em boas condições de ventilação, tráfego e companhia - ainda que desconhecida!)

O interessante de andar de ônibus é que, nele, dá para "assentar" a vida... A gente pensa, vê o mundo que se transforma, observa as pessoas, ouve histórias, se informa.
Ao menos, é assim que acontece comigo, no "Candeias - Conde da Boa Vista" - o "ser" por quem mais tenho esperado, nos últimos três anos e meio. Sentiu a relação?
Pois bem, abaixo, compartilho uma das minhas experiências nele - o amigo ônibus, de todas as quase “de hora em hora”.


Sábado, 04 de outubro de 2008
Linha: Piedade – Cde. da Boa Vista

Findou-se o tempo em que pedir dinheiro na rua era feito somente por maltrapilhos?

Mais parece que quem passa necessidade é, apenas, quem porta todos os males possíveis e indignos a um ser humano - aquele que também se veste mal, fala mal e causa desconforto. Se não for assim, há que se estranhar.

Mas, de blusa vermelha com mangas compridas – pouco desgastada –, saia jeans e um chinelo lilás, apareceu no meio do ônibus, tentando ganhar a atenção de todos.

O discurso, bem proferido. Sem tantos clichês, fugia àquelas histórias "batidas", àquela peleja enfadonha e gritante, àquelas falas decoradas... O timbre era convincente; as justificativas, sinceras; e a fé, norteadora do discurso.

Chamou atenção! Trazia um diferencial: a "alma" de seu "negócio". Era uma verdade sentida (e isso é o suficiente!); era um convencimento fácil que, inclusive, fazia bem, pois não me atrai essa tendência de sempre ter que desconfiar das pessoas.

O motivo de ela estar ali, sim, era o único ponto em comum aos tantos outros. Ela, desempregada. O marido, igualmente. Além do casal, em casa, mais três alvos daquela situação. Ao todo, cinco vítimas da pobreza.

De acordo com ela, o marido havia chegado na noite anterior, após fazer “bicos”, com R$10 no bolso. O dinheiro serviu para comprar leite e fubá. A meta daquela mãe, de olhos azuis e implorantes, era o de conseguir mais dinheiro para chegar em casa com algum alimento para o almoço de suas crianças. Era o que dizia seu discurso.

Indagada por uma das passageiras sobre o programa Bolsa Família, respondeu que não recebia, mas já tentara se cadastrar lá na cidade natal: Pesqueira.

Bem articulada, segura dos questionamentos sobre trabalho e benefícios sociais, feitos pelos passageiros, a mulher me convencia cada vez mais de sua situação e de seu objetivo naquele ônibus.

Ela, também, naquela fatia de tempo, me fez pensar como devemos ter conhecidos que - não maltrapilhos - passam por situações semelhantes à dela.

Se ela conseguiu me convencer agindo de má fé, não sei. Prefiro achar que ela nunca teve nem terá capacidade para isso. Sei, com toda certeza, que naquele ônibus, à beira do meio-dia, foi-se com ela um estereótipo. Ainda bem!

sábado, 14 de março de 2009

a gênese

Há tempo que me divido entre criar um blog ou não.
Porque criar? Não sei, exatamente.
Talvez por causa das vezes em que sinto a necessidade de publicar algo; de me expôr, mesmo...
O porquê de não? Também não sei muito bem.
De repente, porque sou de "baixa produção extra-oficial".
Às vezes, falta tempo para criar ou conveniência para registrar o que penso, gratuitamente.

Resolvi, pois, criar um blog para chamá-lo de meu. Ei-lo!
A princípio, ele não traz o estigma de ser um blog disso ou daquilo.
Trará, quando eu quiser e puder, o que eu sentir que deve ser trazido.
Não há, aqui, arrogância. Há timidez e consciência de que me faltará tempo, vontade ou segurança.

Já sobre o nome do blog, nunca ouve muita indecisão.
Surgiu em 2004, numa aula de Sociologia da Educação, no curso de Letras, em Garanhuns. Foi quando li, pela primeira vez, a palavra IDIOSSINCRASIA.
Causou estranheza, mas soou legal. Aguçou a curiosidade. Recorri ao dicionário.
A partir de então, fiquei de tocaia para, na primeira oportunidade, usar a palavra.
Usei-a período mais tarde, em Teoria da Literatura, quando estudava a "mimese" de Aristóteles e o conceito de arte como "cosa mentale".
Foi uma investida bem sucedida.

Hoje, me divido entre duas possibilidades de redação:
a) a parcialmente subjetiva - o jornalismo;
b) a totalmente subjetiva - poemas, fragmentos, recortes, notas, comentários, impressões, "o texto pelo texto".
É essa última possibilidade que quero exercitar aqui. A primeira, já faço diariamente, como ofício.

E é para esta proposta que, a meu ver, não havia palavra melhor.
Por questão superior, virou "idiossincraticamente". O "falando" entrou por fim, para arrematar a ideia.

Enfim, deixarei palavras organizadas por aqui, sempre que der.
E, se você não sabe o significado do nome do blog, oriento a percorrer a mesma via que fiz.
Siga até o dicionário (ou o Google, mesmo) e descubra!
Bom momento "eureka"!
;)